O novo restaurante 100 Maneiras de Ljubomir Stanisic
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Ljubomir Stanisic, superchef da TV, tem um novo restaurante. Continua a chamar-se 100 Maneiras, e fica mesmo ao lado do anterior, mas está muito diferente.
Publicado em 23-Abr-2019
Ao longo destes últimos quatro anos Ljubomir Stanisic ter-se-á sentido por mais do que uma vez como a personagem a necessitar de ajuda na sua famosa série de televisão, Pesadelo na Cozinha. Porque quatro anos até ter as todas as obras prontas, as licenças aprovadas e tudo o mais necessário para conseguir abrir as portas do seu restaurante, o novo 100 Maneiras, só pode ter sido um pesadelo. Ou, pelo menos, dado vários pesadelos. Mas estes quatro anos acabam também por provar a resiliência de um homem que cresceu numa guerra, na Jugoslávia, antes de emigrar para o nosso país. Um restaurante “feito de carne e osso, de sangue e suor, de lágrimas e muitos risos” conta o chef.
É precisamente pela sua Bósnia natal que começa a viagem no 100 Maneiras: “Bem-vindos à Bósnia” lê-se no menu antes de nos servirem “Pão Rosa e broa de milho, ajvar, kajmak, pasteta, stelja e ‘manteiga’ do mar”, pratos típicos da região, em loiça típica, feitos pela própria mãe Rosa, que entretanto se juntou ao filho para ocupar um lugar de destaque na cozinha. Uma viagem que continua por “Charuto de Sarajevo”, uma espuma de batata, pão de chá fumado e uns rins de porco duvan čvarci, a fazerem o charuto, mas que entra já por uma “Lampreia à minhota”, uma bolacha de arroz de lampreia, com lampreia fumada.
Ljubomir transporta-nos aqui pela história da sua vida, começando pela Jugoslávia e chegando a Portugal, com viagens pelo Norte (Estocolmo, Copenhaga, Helsínquia), Ibéria (Madrid, Barcelona), ou Paris.
O restaurante era um sonho antigo, datado quase desde que abriu o primeiro 100 Maneiras no Bairro Alto, já lá vão dez anos. Apenas duas portas acima, a antiga Adega do Teixeira tinha potencial para fazer um restaurante bem melhor, com uma cozinha maior (cabe até um “Ferrari dos fornos”, desenhado por encomenda em Itália) e três salas distintas (Estufa, Mesa de Jantar e Quarto dos Fundos) e ainda um bar de cocktails (onde se podem provar surpresas deliciosas como o Lisboa, inspirado nas festas populares, enquanto se aguarda ser levado à mesa).
Permitiu até criar todo um ambiente muito especial para quem vai à casa de banho, entrando por um túnel de musgo e pedras da calçada, que nos leva pelo tempo, até vozes como as de Martin Luther King, Nelson Mandela, Josip Broz Tito, o antigo presidente da Jugoslávia, os astronautas da Missão Apollo 11, Alberto Caeiro, Fernando Pessoa, José Saramago, o cauteleiro de Lisboa e até os sinos das mesquitas muçulmanas de Sarajevo. Política, igualdade e tradições.
De regresso à mesa, o 100 Maneiras oferece três menus de degustação: “A História”, com 17 momentos, “O Conto”, mais curto, e “Ecos do 100”, este 100% vegetariano. Entre os momentos, pratos como “Lingueirão, lardo e manjericão”, ” Salmonete em ‘chá’ de presunto”, “Língua de bacalhau com espuma de amêijoas e macadâmia”, e “Cabeça de vaca”, ou sobremesas como “Foie pa’ tosse”, com foie gras, rebuçado Dr. Bayard e gelatina de vinho colheita tardia). Sempre bem acompanhados por uma carta de vinhos com mais de 400 referências, onde nem sequer faltam as escolhas de Dirk Niepoort dos vinhos para “Não morrer antes de beber”.
Uma refeição no 100 Maneiras é realmente uma experiência. Uma viagem por uma gastronomia de autor, plena de sabor, tantas vezes surpreendente, e sempre deliciosa.
100 Maneiras
Rua do Teixeira, 39, Bairro Alto. Tel. 910 918 181. Todos os dias, das 19h00 às 2h (cozinha encerra às 22h30). Preço: 110 euros para o menu de degustação “A História”. Harmonização de vinhos a partir de 60 euros.