Café Joyeux, um café servido com coração Café Joyeux, um café servido com coração

Café Joyeux, um café servido com coração

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Filipa Pinto Coelho conta-nos a história do Café Joyeux, um projeto feliz de inserção, destinado a empregar pessoas com ligeiras perturbações intelectuais.


Publicado em 17-Dez-2021

Ao entrar no novo espaço da Calçada da Estrela, nº 26, ninguém diria que o Joyeux não é um café semelhante a tantos outros abertos recentemente em Lisboa. A mesma decoração bonita e espaçosa, entre o retro e industrial, o mesmo cheirinho a expressos acabados de tirar, os bolos e croissants de aspeto delicioso, o mesmo bulício dos clientes, e os empregados atarefados a atendê-los. Mas o Joyeux não é exatamente igual a todos esses outros cafés, e o enorme sorriso na cara de quem nos atende é o primeiro indício para percebermos que este café é, sobretudo, um projeto solidário, que emprega jovens-adultos com dificuldades intelectuais e do desenvolvimento, tais como a trissomia 21 ou as perturbações do espectro do autismo.

“É um projeto de inclusão, que procura dar um propósito, propondo trabalho em meio comum, a pessoas normalmente afastadas de um emprego”, explica Filipa Pinto Coelho antes de acrescentar: “e, ao mesmo tempo, aproximar esta realidade da sociedade, potenciado um contacto regular de forma a aproximar estes dois mundos e, assim, desmistificar preconceitos sobre a diferença intelectual.”

Filipa Pinto Coelho é presidente da Associação VilaCom Vida, que se constituiu com um grupo de pais de crianças e jovens com Dificuldades Intelectuais e do Desenvolvimento, apoiados por uma reconhecida neurologista pediátrica, Dra. Eulália Calado. O objetivo da instituição passa essencialmente por aproximar a sociedade da diferença intelectual, inserindo estas pessoas na comunidade, na crença de que assim serão seres humanos muito mais felizes, realizados, e inclusivamente autónomos.

Assim nasceu a ideia de trazer para Portugal o conceito do Café Joyeux, nascido em França em 2017, e que conta com diferentes espaços em Rennes, Paris ou Bordéus. Mais um centro de torrefação em Strasbourg, onde cerca de 30 pessoas trabalham e acondicionam os cafés em grão, moído, ou em cápsulas (compatíveis com Nespresso) que se vão beber nos diferentes espaços, e em venda direta ao público. A esse propósito, Yann Bucaille-Lanrezac, fundador do projeto, conta como “torrar um café vindo do comércio justo já é, por si, uma atitude responsável. Mas beber um café Joyeux é um compromisso mais forte, que contribui diretamente para o recrutamento de pessoas excluídas do mundo do trabalho, por causa das suas limitações”, diz.

Café Joyeux, um café servido com coração | Unibanco

O primeiro Café Joyeux em Portugal abriu portas no passado mês de novembro, em São Bento, com o alto patrocínio do Presidente da República, que fez questão de marcar presença na inauguração.

Aqui, todos os empregados do Café Joyeux passaram por um processo de seleção rigoroso, tendo também como critério a vontade de trabalhar com o público. Seleção primeiro e treino exaustivo depois, até porque cada um passará por todas as áreas: balcão, serviço de mesa, cozinha e caixa. Candidatos, felizmente, não têm faltado, dando como provada toda a ideia por detrás do projeto.

Nesta entrevista, Filipa Pinto Coelho traça já um quadro muito positivo destes primeiros dias em Lisboa, onde o café emprega uma equipa inclusiva formada por nove 9 jovens adultos em formação e três profissionais que os ensinam a ser autónomos. Avança também os planos para os próximos anos, pois como o projeto passa por empregar cada vez mais jovens −e fazem questão de manter os que já têm, caso os mesmos assim pretendam − isso implica necessariamente a abertura de mais cafés: “cinco novos espaços, em diferentes pontos do país, nos próximos cinco anos”. “Um plano ambicioso”, reconhece, “mas também um plano à medida da necessidade que existe e das muitas pessoas que estão à espera de poder mostrar o seu valor”, conclui.

Sobre isso, não resistimos partilhar uma frase de candidatura de Charlote a um dos espaços em Bordéus: “Serei muito feliz quando trabalhar convosco”, diz ela. “Serei o meu melhor presente. Quero existir neste mundo do trabalho.”  E esse é o objetivo último.

Café Joyeux, um café servido com coração | Unibanco

Um concerto solidário já no dia 19 de Dezembro

Para ajudar Associação VilacomVida a recolher donativos, e para continuar a expandir esta rede em Portugal vai realizar-se este domingo, dia 19 de dezembro, pelas 18h00, o Concerto Solidário de Natal Joyeux, com a presença de muitos artistas convidados, como Tiago Bettencourt, Bárbara Tinoco, Anjos, João Pedro Pais ou Maria Ana Bobone, que vão interpretar temas natalícios.

Pelo 2º ano consecutivo, o concerto será transmitido online e contará com a apresentação de Sofia Cerveira. Assim, para assistir comodamente ao concerto, a partir do seu sofá, basta fazer um donativo nas lojas Fnac ou em Donativos VilacomVida e assim garantir o link de acesso. O donativo pode começar num único euro (1€), mas quem tiver disponibilidade pode (e deve) subir esse valor.